15 outubro 2008

Rui Mourão (selecção de trabalhos)


GARBAGE KISS, 2008
(fotografia | dimensões: 22,04cm x 15,36cm em moldura de 130cm x 90cm)

Ao nível da apresentação formal, procurou-se uma tensão entre a reduzida escala da fotografia “Garbage kiss” e a grande escala da sua moldura. Será a fotografia pequena demais para a moldura? Será a moldura grande demais para a fotografia? E se nesse desencontro de dimensões se potenciar algo? Certa é a convocação da moldura para o interior do trabalho artístico e a necessidade do espectador de, na impossibilidade de uma total apreensão à distância, se aproximar fisicamente para poder entrar na imagem. Imagem essa que, partindo do real, se transforma e ganha novos sentidos afectivos e conceptuais pelo olhar do artista - expressos via título.

COMMUNITY COURTYARD, 2007 / 2008
(série de fotografias | dupla projecção de slides | dimensões variáveis)
(1 foto e 1 texto | caixa-de-luz | 180 x 61 x 10 cm)

Este projecto consiste numa série de fotografias feitas a partir das traseiras do edifício onde o artista viveu durante 6 meses na Suécia. De certa forma, fotografar estas simples áreas traseiras – espécie de grande pátio comunitário – é olhar e reflectir sobre uma determinada política social num determinado contexto. O trabalho consiste numa dupla projecção de slides, acompanhadas de uma caixa-de-luz com a imagem de uma janela e um texto (“The buildings in my neighbourhood don’t have doorbells, buzzers or intercom systems. (...) My neighbours and I don’t have curtains, so I can see and be seen. (...) Thus, it is a public space for a private community. It is a space conceived to create a sense of collectivity among individuals. It is a space divided by fences and walls, often empty of people.”).


QUANDO LEMBRO HÁ ALI OUTRA COISA
QUANDO ME CALO, 2007
(vídeo | mini-dv transferido para DVD, 13’ 13’’, cor, som)

Em todas as escolas há palavras / expressões usadas pelas crianças que não constam nos dicionários. São palavras inventadas, derivadas de outras já existentes ou apropriadas para novos sentidos (ex: jogos, agressões, lengalengas). A maioria destas palavras / expressões deixam de ser usadas, pois têm existência efémera e apenas são usadas numa determinada comunidade. No entanto há algumas – muito raramente – que acompanham a passagem da infância para a adolescência e seguem gerações inteiras na vida adulta, acabando por chegar a entrar no léxico da língua portuguesa. Este vídeo parte de uma pesquisa que o artista desenvolveu nesse campo enquanto trabalhou como professor de actividades extra-curriculares numa escola primária.

TRÓIA, 2007
(vídeo | mini-dv transferido para DVD, 5’ 53’’, cor, som)

A acção, ou melhor, a ausência de acção deste vídeo, desenvolve-se num call-center onde o artista trabalhou. De início, um espaço de trabalho com características panópticas, surge aparentemente vazio. Gradualmente, revela-se habitado por pessoas – funcionários da empresa – que se encontram a dormir no seu local de serviço (o vídeo foi realizado no local e horário laboral). Essa inactividade tem uma dupla leitura. Tanto pode ser interpretada numa perspectiva subversiva de resistência passiva, como pode ter uma leitura de âmbito mais alargado, enquanto metáfora do estado do mundo perante os actuais sistemas de organização social.

FULGURAÇÃO, 2006 / 2007
(instalação + vídeo | 10 monitores de dimensões variáveis | mini-dv transferido para DVD, 14’ 18’’, cor, som)

Várias imagens de neons e de caixas-de-luz com marcas publicitárias combinadas numa vídeo-instalação com 10 monitores, conjugam-se e dialogam com registos reais áudio de caixas-pretas de voos de aviões que se despenharam.
A nível conceptual, tomou-se a ideia de desejo pela ascensão (através da imagem) e a inevitabilidade da queda (através do som). A partir daqui, pretendeu-se jogar com anseios, medos e imaginários colectivos numa metáfora para os sistemas económicos, sociais, culturais e políticos contemporâneos.

S/ TÍTULO, 2005
(vídeo | mini-dv transferido para DVD, 4’ 22’’, cor, som)

De início, foram feitas várias entrevistas a polícias civis (PSP) e militares (GNR), homens e mulheres, com diferentes idades e postos na sua hierarquia interna. Na edição, apenas foram seleccionados os planos prévios a essas entrevistas. Deste modo, vários agentes da autoridade movimentam-se frente à câmara, numa espécie de coreografia dirigida pela voz do artista. Com humor, subverte-se o sentido quotidiano do poder, invertendo-o. Simultaneamente, capturam-se retratos das particularidades individuais de cada um desses agentes de autoridade e revelam-se fragilidades que lhes devolvem uma maior humanidade por trás do institucional uniforme.

01 outubro 2008